quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Lede serenidade deleitosa
Leda serenidade deleitosa,
que representa em terra um paraíso;
entre rubis e perlas, doce riso,
debaixo de ouro e neve, cor de rosa;

presença moderada e graciosa,
onde ensinando estão despejo e siso
que se pode por arte
e por aviso,
como por natureza, ser fermosa;

fala de quem a morte e a vida pende,
rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
repouso nela alegre e comedido;

estas as armas são com que me rende
e me cativa Amor; mas não que possa
despojar-me da glória de rendido.
Luís de Camões
Glossário: Leda: alegre - deleitosa: deliciosa, agradável - despejo: desenvoltura, naturalidade - siso: bom senso, juízo - arte: habilidade
Este poema tem como título "Leda serenidade deleitosa" e autor Luís de Camões.
O tema é a mulher o assunto o sofrimento do sujeito lírico em amar uma senhora inatingível.
Segue a forma fixa do Soneto, com 2 quadras e 2 tercetos. A rima é interpolada nas quadras e cruzada nos tercetos (ABBA/ABBA/CDE/CDE). Em relação à métrica, todos os versos são decassílabos. (Ex. "de | bai | xo | d'ou | ro e | ne | ve | cor | de | ro | sa" 4º verso)
Na estrutura interna, podemos organizar o poema em duas partes distintas. Na primeira parte (v. 1-11) o sujeito faz o retrato físico e psicológico da mulher amada. Na segunda parte (v. 12-14) são retratados os efeitos do amor sobre o sujeito lírico.
Pela descrição feita pelo sujeito lírico na primeira parte, apercebemo-nos que esta mulher é um modelo de beleza, de perfeição física e psicológica devido ao uso de palavras como "rubis", "perlas doces", "ouro", "fermosa", etc. recorrendo também a metáforas e adjectivações duplas para conferir grandiosidade e perfeição a essa mulher.
Esta descrição serve para aprisionar o sujeito lírico "estas são as armas que me rende e me cativa Amor" causado pelos efeitos da beleza (que são considerados como uma arma). Desta forma o sujeito rende-se aos seus encantos, não podendo livrar-se de pensar na sua amada.
Ao longo deste soneto também é possível interpretar uma contradição do amor, este é puro e espiritual, mas também amargo.

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